22.11.10

CORREIO BAZILIENSE

foto andré mantelli



Em cartaz no CCBB, espetáculo Banal traz "humor irônico com certo lirismo"


Publicação: 04/11/2010 08:00 Atualização: 04/11/2010 08:45



A violência que assusta e preocupa os habitantes das cidades grandes ganhará uma nova roupagem. Em vez de surgir em sua versão nua e crua, ela virá embalada em uma proposta artística, com toques jornalísticos, poéticos e ingredientes sonoros e audiovisuais. Assim é Banal, espetáculo criado pela atriz, diretora e performer (entre outras coisas) Alessandra Colasanti, que começa sua trajetória nos palcos nacionais pelo Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil, em temporada que começa hoje e segue até 28 de novembro.

“A peça surgiu do meu estarrecimento diante da violência. O nome Banal surgiu porque ela está na vida de todos nós e é um paradoxo que eventos extraordinários sejam tão frequentes, e acabem neutralizados nas nossas vidas”, destaca a diretora.

O embrião do texto surgiu há cerca de quatro anos, sem recorrer à estética da arte contemporânea. Quando decidiu ressuscitar o projeto, Alessandra convidou os cinco atores que dividem o palco para uma criação coletiva. Durante um mês, conversaram, compartilharam relatos, contaram piadas, algumas incluídas no texto final, para dar a tônica de humor da montagem. O resultado é, segundo sua mentora, uma obra poética e bem-humorada, que evita a linguagem panfletária, vez por outra presente na arte. “O caminho que encontramos para fazer isso é um humor irônico, misturado a um certo lirismo”, avisa.

Para receber Banal, o teatro foi transformado em uma galeria clean, toda revestida de branco, onde o público se acomoda também em pufes brancos para presenciar a encenação. A galeria, na verdade, é chamada de Museu do Cubo Branco e o que se desenrola ali seria criação de um artista contemporâneo chamado Século.

Cinco atores encarnam uma burguesia decadente e sofisticada, que retrata sua visão da violência sob a forma de histórias, em um formato que se alterna entre a performance e uma stand up comedy. Vestidos em trajes de gala, eles se alternam entre a interpretação dos personagens e a posição de atores-personagens.

Apresentam-se para o público e contam experiências próprias, dos colegas e episódios coletados no processo de pesquisa. O clima é de vernissage com tempero jornalístico, já que notícias reais foram adaptadas ao texto. O enfoque é a violência urbana, mas é impossível, segundo Alessandra, não ir além.

“É inevitável não tocar nas distorções do sistema político, no capitalismo, na posição que o Brasil ocupa no mundo. África, World Trade Center, assalto em Copacabana, tudo vira assunto”, afirma.

Outro charme estilístico é a oposição de ideias. Em cena, a dualidade está presente o tempo todo. De um lado, o pessoal. De outro, o generalista. O íntimo e o delicado fazem contraponto com a ideia do social, aquilo que escapa ao controle do indivíduo. Para transmitir essa ideia do público e do privado, a autora recorreu à vídeoarte. Um telão reproduz, do começo ao fim da peça, cerca de 10 mil fotografias, parte do acervo dela e da assistente de direção, Mariana Kaufmann, além de contribuições dos atores Carol Portes, Fabrício Belsoff, Fernanda Felix, João Velho e Thiare Maia. São imagens de ruas, cidades, galerias de arte, paisagens e momentos dos próprios artistas.

Ao mesmo tempo, três monitores transmitem imagens que simulam tempo real, de dentro da casa de Alessandra Colasanti. Ela instalou câmeras no quarto, na cozinha e no escritório, e aparece nas imagens conversando com sua empregada doméstica. “A ideia é criar uma janela aberta para fora e outras para dentro”, sinaliza. (MM)

QUEM É ELA
Filha dos escritores Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti, Alessandra Colasanti nasceu em 1972. Formada em teatro e moda, autora, diretora, atriz, videomaker e performer, dedica-se à pesquisa de linguagens contemporâneas, humor nonsense e manifestações híbridas da arte. Já trabalhou com Michel Melamed, Gerald Thomas e Moacir Chaves, entre outros. Seu maior sucesso é a Bailarina de Vermelho, personagem que surgiu na peça Anticlássico, de saiote de tule vermelho e meia arrastão escarlate, “intelectual doidivanas, uma acadêmica nonsense”, que acabou ganhando um curta-metragem, A verdadeira história da Bailarina de Vermelho.

OUTROS PROJETOS
» Alessandra Colasanti continua encenando a peça Anticlássico, que lançou a Bailarina de Vermelho. Este mês, está em cartaz em São Paulo e, em dezembro, segue para Curitiba. Em fevereiro, estreia o espetáculo Coelho branco sobre branco, em referência à obra do pintor russo Kazimir Malevich, com o ator Pedro Henrique Monteiro. “Trata-se da história do homem sobre a Terra, desde o Big Bang até a morte da arte, vista pela ótica da figura arquetípica de um coelho”, adianta ela, que também está trabalhando em uma adaptação para o teatro do livro Fragmentos do discurso amoroso, de Roland Barthes, e aparecerá este mês como atriz na TV Globo, na minissérie Afinal, o que querem as mulheres? “Faço o papel da Laura, melhor amiga do protagonista”, conta.

BANAL

Espetáculo dirigido por Alessandra Colasanti. De hoje a 28 de novembro, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (3310-7087). De quinta a sábado, às 19h30, e aos domingos, às 19h30. Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.

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