6.10.10

bala perdida encontrada em sabonete

“Não há nada que um humor inteligente não possa resolver com uma gargalhada, nem mesmo o Nada”
Armand Petitjean, Imagination et réalisation


“Se verdadeiramente nada tem sentido, o escárnio não seria a única atitude razoável?”
Georges Minois, História do riso e do escárnio


A mesma “sociedade humorística” na qual, segundo Gilles Lipovetsky, em A era do vazio de 1983, estaríamos imersos, Georges Minois define como “ uma sociedade que se quer cool e fun, amavelmente malandra, em que os meios de comunicação difundem modelos descontraídos, heróis cheios de humor e em que se levar a sério é falta de correção[1]. Ele questiona:

Quando nada que existe é sério, é possível ainda rir? O mundo deve rir para camuflar a perda de sentido. Ele não sabe para onde se encaminha, mas vai rindo. Ri para agarrar-se a alguma continência. Não é um riso de alegria, é o riso forçado da criança que tem medo do escuro. Tendo esgotado todas as certezas, o mundo tem medo e não quer que lhe digam isso; então, ele fanfarreia, tenta ser cool e soft. Ri tolamente de qualquer coisa, até para ouvir o som da sua própria voz[2].

Minois descreve o atual estado de humor universal, padronizado, midiatizado, comercializado, globalizado, que assola o planeta[1]. E destaca ao lado deste humor altamente disseminado, uma específica necessidade de ironia no mundo contemporâneo. “O humor e a ironia generalizaram-se no século XX, mas um e outro são constatações de impotência, condutas que permitem ultrapassar o absurdo do mundo, do homem, da sociedade[2].

Para o historiador, e membro do Centre International de Recherches et d'Études Transdisciplinaires, a ironia seria aos olhos de muitos indispensável inclusive relativamente a questões sociológicas, e exemplifica: “Charles Lemert afirma, em 1992, que ‘a ironia é hoje uma atitude necessária para uma teoria social’ e que ‘o pós-modernismo é uma irônica teoria geral” [3].

A ironia de situação é a disparidade existente entre a intenção e o resultado. A ironia dita oral é discurso ambíguo, quando há disparidade entre o que se diz e a forma como se diz, entre a expressão e a intenção, o efeito final é de disjunção. Então é uma forma de expressão verbal que opera na simultaneidade, justamente a partir do entroncamento de sentidos.


[1] MINOIS, Georges. História do riso e do escárnio. Unesp, São Paulo, 2003. p. 15.
[2] Idem, p. 554.
[1] Ibidem.
[2] Idem, p. 569.
[3] Ibidem.



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